Terminou, no último fim-de-semana, a fase regular do maior campeonato de futebol nacional. Com ela, terminou também a época para 52 equipas - as primeiras a fechar a época em Portugal -, ainda nos primeiros dias de Abril.

Não há data à vista para o arranque do Campeonato de Portugal 24/25, muito menos para a 1ª jornada dos diversos campeonatos distritais, que serão disputados pelas vinte equipas despromovidas. Sabemos, contudo, que a 1ª jornada deste campeonato foi disputada a 20 de agosto (daqui quatro meses e meio) e que os campeonatos distritais começam, por norma, em setembro (cinco meses de intervalo).

Para termos uma noção da dimensão do problema será útil estabelecer uma análise comparativa. A Primeira Liga terá o seu término no dia 19 de Maio, e uma parte considerável das equipas começou a disputar a Allianz Cup em meados de Julho. Estamos a falar de metade do tempo de paragem.

Contudo, é também útil olhar para a maneira como estas matérias são geridas nos países europeus de referência, nomeadamente nos mesmos escalões competitivos. Todos os escalões a que farei referência são, de igual maneira, o quarto escalão hierárquico do futebol desses países. As datas que refiro dirão respeito apenas a fase regulares, ignorando possíveis 'playoffs' de subida ou descida.

  • League Two: começou no dia 5/08 e terminará a 27/04 (3 meses e meio de paragem).
  • Série D: começou no dia 10/09 e terminará a 5/05 (4 meses de paragem).
  • Segunda RFEF: começou a 3/09 e terminará a 5/05 (4 meses de paragem).
  • National 2: começou a 25/08 e acaba a 18/05 (3 meses de paragem).
  • Regionalliga: começou a 4/08 e acaba a 18/05 (2 meses e meio e paragem).

Conseguimos perceber que os modelos italianos e espanhóis serão, porventura, os mais próximos, embora nenhum se equipare ao nosso. Se fizermos contas a 21 jogadores por plantel, falamos de aproximadamente 1512 jogadores que estarão sem competir durante quatro meses e meio.

Isto podia ser menos dramático caso as equipas tivessem meios para combater este vazio, num período preparatório mais extenso, que contrariasse os naturais efeitos do destreino. Contudo, a realidade precária de muitos destes clubes, em que as receitas são manifestamente insuficientes, muitas vezes em zonas remotas e despopuladas, tornam o fosso para os campeonatos profissionais um abismo de grande dimensão.

No contexto competitivo onde a paragem é mais do dobro, é também onde os meios para acautelar as consequências dessa paragem são menores. A preparação da época é precária, muitas vezes feita em cima da hora, quer por vicissitudes relacionadas com o financiamento, quer por falta de meios para uma preparação mais atempada.

Não são só os meios, claro. Os jogadores que se vejam sujeitos a esta paragem encontrarão problemas redobrados em ser enquadrados em novos contextos. Poucos são os que conseguem dedicar-se ao futebol a tempo inteiro, em especial se apenas forem remunerados durante os 9 a 10 meses em que se encontram no ativo.

Isto dificulta, de forma evidente, a possibilidade de ascensão para as restantes provas. A Liga 3 terá o seu término em Maio, e para algumas equipas apenas no final deste mês. Além do mês e meio a dois meses de diferença, em que alguns jogadores estarão parados e outros no activo (e, provavelmente, mais bem preparados para a nova época), falamos de um conjunto de meios igualmente diferenciados para acautelar este período off-season: pré-épocas mais extensas, planos de treino individualizados, acompanhamento à distância, etc.. Em que condição física se apresentará um jogador sujeito a quase cinco meses de paragem?

Outra realidade é ainda a das equipas que praticamente se encontram despromovidas em janeiro ou fevereiro. Existe uma fase de subida, mas não existe uma fase de manutenção. Basta percorrer as classificações das séries para vermos algumas equipas que fizeram pouco mais que uma dúzia de pontos.  Não pretendo com isto levantar acusações, bem pelo contrário – esses clubes são igualmente vítimas este problema. Contudo, isto abre precedentes óbvios para uma gestão mais negligente, em que se deixam de pagar salários.

Torna, por outro lado, a verdade desportiva dos jogos com adversários ainda envolvidos na luta pela fase de promoção e/ou pela descida muito pouco clara. No fim de contas, falamos de equipas que entre janeiro e fevereiro e o recomeço dos campeonatos distritais, por volta de setembro, praticamente não competem com consequências práticas. São oito meses...

Não tenho uma solução para este problema. A constatação de um problema não é uma acusação, bem como não traz em si uma solução. Não sei como este problema é gerido noutros países: talvez os meios sejam outros e, consequentemente, estes problemas sejam menores.

Basta para isso que os jogadores tenham vínculos profissionais ou, pelo menos, meios para lidar com estes tempos paragem: por exemplo, pré-épocas mais extensas, treinadores com condições de trabalho e meios que lhes permitam acompanhar os jogadores durante o período de paragem, ou talvez a mais simples de todas: campeonatos com durações mais próximas aos profissionais.